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segunda-feira, outubro 25, 2004

Vida depois da morte



Não poderia haver momento de maior felicidade. Uns breves instantes antes, ressoavam os sinos do alto do campanário, onde o catavento parecia rasgar o azul do céu por causa do rasto de um avião a jacto que tinha passado naquela direcção. Ouviam-se palmas e o chão estava coberto de pétalas de flores.
A capela estava repleta. Familares, amigos, amigos de familiares, familiares de amigos, gente que os dois do altar não conheciam nem nunca chegariam a conhecer. Do silêncio acompanhado pelos respiros e suspiros dos presentes, o abade abre o livro e virando-se para o noivo manda-o repetir «Prometo amá-la e respeitá-la na doença e na saúde, na alegria e na tristeza até que a morte nos separe».
- Não prometo coisa nenhuma, responde.
O branco do vestido passa para segundo plano, quando comparado com a expressão da noiva. O padre sorri amareladamente, o futuro ex-sogro revela a sua expressão facial benfiquista, a futura ex-sogra fica mostra mais tendências portistas, e os presentes lembram uma partida de ténis de Roland Garros quando uma bola vai fora por escassos milímetros da linha.

Um impasse.

O abade vira o livro para o noivo, como quem diz ao menos sabes ler?
Parece latim. Será? Encolhe os ombros e ampara a queda da futura ex-mulher.

«Eu disse logo que este bandalho não servia para a nossa filha»
«Se ele não queria casar, podia ter-me poupado o cabeleireiro»
«Bem me quis parecer que não queria nada sério com a míuda»
«Aposto que tem outra qualquer e não teve coragem de admitir»
«Será que a malta ainda tem direito ao copo de água no hotel?»
«Vou perguntar-lhe se posso ir com ele na viagem de lua-de-mel»
«Acho que já ganhei mais uma cliente para o divã do meu consultório»
«Fixe. Ainda tenho a prenda na mala do carro. Vai ficar bem no meu hall»
«De facto, um doutoramento não é sinónimo de sanidade mental»
«Acho que alguém vai ser despedido na próxima segunda-feira»

Anos mais tarde, alguém teve a coragem de trazer o assunto à conversa e de o confrontar com o sucedido.

- Não me quis casar? Eu? Quem disse? Eu apenas não prometi nada por achar que nem a morte nos ia separar. Mas depois de tudo o que aconteceu, preferi separar-me em vida.

E assim viveu.



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quinta-feira, outubro 21, 2004

Disciplina de voto



A família socialista do Parlamento Europeu considerou que as garantias dadas por José Manuel Barroso (Durão, para a malta!) a propósito do seu hipotético Comissário da Justiça, o mais-que-conhecido italiano Rocco Butiglione, não eram suficientes para fazer aprovar a Comissão liderada pelo cherne. Posição tomada em conferência de imprensa mas, mesmo assim, as declarações de Barroso não deixam de manifestar a mais profunda esperança pela aprovação da sua equipa.
No entanto, esta posição dos socialistas faz-me pensar o seguinte: haverá, ou não, disciplina de voto no Parlamento Europeu, nos respectivos grupos parlamentares? É que se assim for, teremos os 12 deputados europeus eleitos pelas listas do PS nacional a chumbar o ex-primeiro-ministro português e o seu dream team de comissários.
Realmente, o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita e é bem possível que esta Comissão - cujo processo de nomeação do seu presidente ainda está tão envolta em nevoeiro como o desaparecimento de D. Sebastião - nunca venha a navegar em águas suficientemente calmas para levar a bom porto uma Europa ainda ancorada a alguns conservadorismos.



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segunda-feira, outubro 11, 2004

Amor é...



... Detestar ostras, mas esfolar os dedos para abrir uma dúzia delas para ela comer.

Para TI!



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A queda de um anjo



Ninguém poderia adivinhar o que seria a vida de Christopher Reeve se não tivesse caído de um cavalo e não tivesse ficado tetraplégico. Ironia do destino (cinematográfico, claro!), o homem que vestiu a capa de Super-Homem nem pela criptonite foi salvo. Apesar de ter ficado agarrado à cadeira de rodas durante longos anos, o eterno Super-Homem morreu como as árvores: de pé. É um exemplo de determinação, mesmo com todas as contrariedades da vida.

Até sempre, Reeve!



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domingo, outubro 03, 2004

(Im)Possível empate técnico



O impossível tornado possível. A primeira prova de motociclismo realizada no Médio Oriente (GP do Qatar) terminou da forma mais inesperada: o photo-finish decretou um empate entre os dois primeiros classificados, o espanhol Jorge Lorenzo (Derbi) e o italiano Andrea Dovizioso (Honda). O júri (porque tem sempre de haver um vencedor) optou por usar como critério de desempate o benefício ao piloto que conquistou a pole position, entregando os louros a Lorenzo. Azar para o italiano, porque partiu da segunda posição, apenas um metro atrás do espanhol. poderá pensar-se que deveria beneficiar-se quem mais esforço fez para cortar a meta em primeiro (na prática, Duvizioso correu um metro a mais do que Lorenzo no mesmo espaço de tempo sendo, por isso, mais rápido na pista). Mas a organização explicou que beneficiar quem conquistou a pole position é premiar quem se esforça, também, nos treinos cronometrados. Discutível, mas aceitável.

Mas este é, sem dúvida, um acontecimento que ridiculariza o recurso às novas tecnologias para determinar o vencedor de uma prova de alta competição. Os 160 frames por segundo da câmara de captação de imagem final podem mesmo ser insuficientes para determinar uma fracção indivisível do tempo. Quais seriam, antes de isto acontecer, as possibilidades de tal episódio suceder? Por quanto tempo mais pode o tempo ser dividido?

A imagem publicada pode não ser muito esclarecedora do "empate", mas dizem as regras que conta somente a passagem do eixo da roda dianteira da mota. O piloto da esquerda, Andrea Dovizioso, vinha em ultrapassagem no momento da chegada. Que rica estreia do Médio Oriente na recepção às corridas de mota!

O GP do Qatar também fica marcado pela desistência de Rossi, depois de elementos da sua equipa terem andado, de scooter, a "cobrir" o alcatrão virgem com borracha de pneu. O mesmo aconteceu com a equipa de Max Biaggio, que andaram a limpar de esfregona a zona de partida do piloto para o alcatrão aderir melhor no momento da partida. Resultado: foram os dois relegados para os últimos lugares da grelha de partida.

Os números que ficam para a história:
125CC
1º Jorge LORENZO (ESP) Derbi - 39'11''620 (148.248km/h)
2º Andrea DOVIZIOSO (ITA) Honda - 39'11''620 (148.248km/h)
3º Alvaro Bautista (ESP) Aprilia - 39'15''638 (147.995km/h)



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Uma outra perspectiva



A 100 km de altitude, o SpaceShipOne vai permitir olhar a Terra de uma outra perspectiva, até agora reservada a astronautas e uns excêntricos hiper-mega-multi-bilionários (e não daqueles que o Euroloto promete fazer)!
Por 169 mil euros, Richard Branson promete levar - a partir de 2009 - os novos turistas do século XXI ao espaço (pelo menos fora da gravidade terrestre), através da sua mais recente criação, a empresa Virgin Galactic (sem jogadores do Real Madrid).

Gostava de um dia poder ter uma imagem destas na minha memória, captada com os meus olhos...


P.S. - Visto assim de frente, o avião dá uns ares de rato Mickey! :)



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